quarta-feira, 11 de maio de 2011

Algumas Razões Pelas Quais Vou Deixar a Aliança:
  
   Ultimamente tenho considerado seriamente a possibilidade de sair de Aliança. Isto porque estou à procura de algo novo, de experiências novas, na verdade, minha busca é por novidades, por inovação. E tenho percebido ao longo destes dezenove anos de que a Aliança é muito resistente ao novo, àquilo que moderno. Por esta razão, penso em fazer, o que no mundo artístico musical se chamaria uma carreira solo. Diante disso, para não ser mal compreendido, gostaria de expor algumas razoes que têm me levado a cogitar tal pensamento.
   Primeiramente sinto crescer dentro de mim uma expectativa tremenda de tirar o meu ministério e a minha Igreja do anonimato. Quero ser visto, quero estar em evidencia. Quero que as pessoas me vejam como um líder bem sucedido, de destaque dentro e fora do seguimento evangélico. Vejo que para alcançar este  objetivos, buscar novidades é o caminho mais rápido e mais eficiente. E neste campo a Igreja brasileira está bem suprida. O que não falta é novidade e mais novidades entre os evangélicos deste país. A cada dia surge variedade de  inovação, e acho isso simplesmente fascinante. São novidades nos sermões, na forma extravagante com que os pregadores se apresentem nos púlpitos das Igrejas. Aliás, acho até que esta palavra púlpito está ultrapassada, melhor seria, quem sabe, empregar a palavra palco, pois vejo muitos pastores encenando e dramatizando seus sermões, mas se parecendo animadores de auditórios que os antigos pregadores que demonstravam muita serenidade e reverencia no recinto sagrado.
   Em segundo lugar, as Igrejas que tem aderido ás novidades tem experimentado um crescimento relevante, realmente assombroso, enquanto que em nossa Aliança este crescimento é buscado por outras fontes, e Missões é uma delas. Acho bonita, e ate romântica, a historia de nossa denominação. Nasceu muito simples, fruto de um empreendimento missionário. Foi algo implantado aos poucos, diante de muitas barreiras, através da iniciativa do casal de missionários, Dr. Kalley e sua esposa Sara, que deixaram seu pais, e vieram para o Brasil, aprenderem uma nova língua, e encararem o desafio de estabelecer uma igreja pioneira em solo estrangeiro. Tiverem que cavar seu próprio poço, derramaram muitas lagrimas, sacrificaram-se. Nas palavras do apostolo Paulo, ‘sentiram como que dores de parto’  para que uma Igreja fosse implantada. Mas este modelo, empregado por tantos missionários no passado e ainda em nossos dias, apesar de trazer resultados, e muito lento e requer muitos esforços e investimentos financeiros exorbitantes. Já as Igrejas que buscam novidades, crescem num ritmo acelerado e sem sacrifício algum. Não precisa nem fazer missões. Alias, nem conhecem o significado da grande comissão. Seu crescimento se dá de forma muito simples: divisão do rebanho e uma liderança ávida e famigerada por números. Aqui está uma formula não mágica, mas inovadora e muito eficiente, de estabelecer uma Igreja em curto prazo em nossos dias! O resultado é uma pulverização de novas Igrejas e de novos ministérios que surgem no cenário Brasileiro. São como as trepadeiras: crescem rápido, pegam caronas nas plantas solidamente fixadas, mas não tem consistência alguma por não terem raízes. Mas, o importante mesmo é a novidade de sua metodologia!
   Outra razão que tem me levado a buscar uma nova dinâmica para o meu ministério, fora da Aliança, esta relacionada à sua forma de governo. Acho o governo congregacional democrático demais. A meu ver, é desnecessário atribuir ás assembléias de uma Igreja local a tarefa de decidir acerca das questões administrativas da própria Igreja. A grande vantagem que posso contatar nas Igrejas que optaram por uma administração inovadora é que todo o poder de decisão reside unicamente na pessoa do seu líder fundador. Isso é realmente sedutor!
Decidir sozinho, sem precisar prestar contas de seus atos, sem ter que solicitar aprovação de uma assembléia ou sessão de Igreja.... não vejo algo que seja mais inovador que esta atitude que se torna a cada dia tão comum nas Igrejas. Acho que o caminho é esse: como líder, quero ter a palavra final, ou melhor, a única palavra na Igreja. Na verdade, não quero ter minhas idéias nem meus projetos submetidos às ovelhas. Como o ‘’anjo’’ da Igreja, posso decidir sozinho, afinal, eu sou o ungido do Senhor. E não tenho por que dar satisfação ao rebanho.
   Anda neste ponto, vejo outra questão que me incomoda na Aliança quando a comparo as Igrejas mais recentes. Assim como a Igreja presbiteriana do Brasil, as Igrejas da Convenção Batista Brasileira, ou ainda, as Igrejas Metodistas, para citar apenas algumas, a Aliança como instituição não está ligada a uma personalidade de destaque. Ela não tem um dono. E isso é muito arcaico. Já as Igrejas recentes surgem ligadas a uma personalidade de ‘peso’, de destaque. Por exemplo, quando a mídia se refere á Igreja Universal, ela a denomina ‘a Igreja do Edir Macedo’’. O mesmo acontece como a Igreja Internacional da graça de Deus, com a Igreja do poder de Deus, a Renascer.  Essas e outras conseguiram inovar de forma surpreendente, associando a instituição a uma personalidade. Não ao seu verdadeiro dono, mas ao do seu fundador. Imaginemos se a Aliança seguisse essa novidade! Entraríamos, com certeza, em um novo movimento. Fico pensando como soaria bem, digamos, a Igreja do Manoel Antonio, ou a Igreja do Ver. Aurivam Marino! Ter uma Igreja ou uma denominação relacionada diretamente á pessoa de líder forte, carismático, de sucesso, é o que me motiva a pensar em fazer, como escrevi uma carreira solo. Quero uma Igreja com o meu nome, com a minha cara.
   Algo que pretendo pontuar ainda nesta minha lista diz respeito a motivação despretensiosa, presente no nome de nossa querida denominação. Qual a abrangência do nome Aliança? Sua abrangência é nacional, territorial: Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil. O nome deve falar por si só. As Igrejas que buscam novidades também conseguem inovar ate em seus nomes. Criaram logomarcas que revelam a ambição desenfreada de seus lides, a sede de serem os maiores, os detentores da maior fatia do bolo Evangélica: Universal, Internacional, Mundial do poder de Deus, são nomes de dimensões continentais. Caso se concretize a saída do quadro de ministro da Aliança para seguir uma carreira solo, já tenho um nome para minha Igreja. Ela se chamará Igreja Internacional do fogo Antonio. Isto, sim, seria uma Igreja que abrange todos os superlativos propostos pelo novo! Não entendo de astronomia, mas, intergaláctico já está de bom tamanho. Tem dimensão extraterrena, tem superior. Tudo o que cabe dentro do ego está nesse nome. Meu titulo não seria o de pastor, termo já superado pelas novas Igrejas. Eu optaria por Bispo primaz. Ficaria assim: ‘ Manoel Antonio, bispo primaz da Igreja Internacional do fogo Atômico’.
   Anda quero aponta mais uma razão que merece destaque nas Igrejas que optaram pelo novo: seu distanciamento do velho livro da capa preta: a Bíblia. Vejo a novidade do momento nos palcos eclesiásticos e nos congressos denominacionais: a Bíblia não tem mais a única palavra sobre o homem, o pecado, sobre o céu e o inferno, sobre monogamia, divorcio, sexo fora do casamento, dentre outra temas tão relevantes. O novo busca a palavra de autoridade no assunto, gente considerada expert nestas questões. Por outro lado, a Aliança teima em insisti num refrão antigo, do século xvi, sola Scriptura. A Igreja pós-moderna tem aprendido a viver sem as Escrituras. Prefere a opinião do acadêmico, do doutor, do perito, do estudioso do comportamento humano. Isso, sim, é novo. Enquanto isso, a Aliança busca a opinião registrada num passado tão remoto, de gente como Moisés, Samuel, Isaias, e outros antigos. Os mais recentes são Mateus, Marcos, um médico antigo chamado Lucas. Também há um certo João, Paulo, Pedro, dentre outros que ficaram no passado. Não entendendo porque a Aliança sacraliza estas coisas, e fecha as portas para tanta gente esclarecida em nossos dias que bem poderiam emitir novos conceitos acerca dos nossos antigos temas e velhos problemas. A Aliança é muito intransigente quando toca na suficiência das Escrituras. O novo propõe um relativismo na maneira de lidar com temas atuais.
   Outras razões eu teria para apresentar nestes meus questionamentos. Estas, porem, são suficientes para justificar o fascínio que a busca pelo novo provocou em meu coração. Por outro lado, eu tenho que ser honesto com os fatos e com a historia. Mesmo  que o novo seja atraente, ele não deve tocar apenas  em minhas emoções. Não posso consentir que a inovação venha suplantar uma das mais extraordinárias dádivas com que o bondoso Criador me dotou: a capacidade de fazer uso da mente para refletir, analisar, ponderar! Desta forma, passo então a  considerar alguns pontos que merecem uma reflexão mais acusada. Eis, portanto, algumas questões que preciso ponderar antes de tomar uma decisão. Por que a Aliança não se deixa persuadir por estas e outras novidades que têm surgido entre os Evangélicos? Por que o seu apego á Bíblia escrita num passado e num contexto tão diferente do nosso?
   A analise que faço me leva as seguintes conclusões: A Aliança não muda porque tem raízes profundas, tem solidez. Na verdade, a busca por novidade não é coisa nova, um investimento exclusivo da Igreja do presente século. Sempre houve grupos que se puseram á margem das Escrituras, à procura de experiências novas e inovadoras. O misticismo dos montaneses, a aridez dos escolásticos, as indigências do papado, o  racionalismo dos liberais, e agora, o materialismo dos neopentecostais com sua teologia da prosperidade, são apenas algumas das novidades que a Igreja busca ao longo de sua história, porem, a Igreja que sobreviveu a todas as novidades, mesmo em épocas e períodos distintos, focalizou seus olhos naquilo que os reformadores resumiram nos pilares da reforma: somente a fé, somente a graça, somente Cristo, somente as Escrituras e somente as Escrituras e somente a Deus seja a Gloria. Portanto, aqui está a razão porque a aliança sobrevive às novidades, as ondas de inovações. A doutrina abraçada pela a Aliança é solida porque não precisa da opinião do mercado eclesiástico e, sim, da inabalável palavra de Deus. O novo só é novo por hora, o ‘depois’ ou o ‘amanha’ o torna ultrapassado, e ai se faz necessário um novo. A palavra de Deus, porem, permanece para sempre. ‘ Os céus e a terra passarão, mas’, disse o Senhor Jesus, ‘ a minha palavra não haverá de passar’ (Mt 24:35).
   Outra conclusão a que cheguei está baseada na declaração de Hodge quanto á doutrina: O que é novo, não pode ser Bíblico, e o que é Bíblico não pode ser novo. Diante disso, percebo que o preciso para a minha vida e meu ministério eu encontrei nas Escrituras. Portanto, não preciso de novidades, e se as encontrar, elas não serão Bíblicas. Não preciso deixar a denominação que tanto amo. Tampouco preciso fundar uma nova Igreja ou impor meu nome a uma denominação. O único nome de que a Igreja precisa é o nome que está acima de todo nome.
   Finalizando, minha busca pelo novo me confronto com duas verdades: que o novo que eu procuro nada mais é do que a expressão da velha natureza pecaminosa, que busca autoafirmação, que busca monopolizar o rebanho do Senhor, que buscar ser o maio e não servo. Também me fez redescobrir a sublimidade da suficiência das Escrituras. Nela eu encontro tudo o que meu coração precisa tudo o que meu ministério carece, tudo o que o Senhor tem para o seu povo. 
Pr: Manoel Antonio do Carmo.

‘’Este texto é fictício, obviamente, e nunca cogitei me desligar da a Aliança. No entanto, tive como objetivo pontuar as grandes virtudes presentes em nossa Denominação, virtudes essas muitas vezes ignoradas por membros e pastores de nossas Igrejas. E ainda: provocar uma seria reflexão acerca dos desvios éticos e doutrinários cometidos por lideres  ‘cristãos’ ambiciosos, os quais parecem ter perdido o verdadeiro sentido da nossa vocação ministerial. A aliança, meu profundo respeito e carinho’’.


Postado por: João Maria Neris de Freitas.

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